Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA/UFF). Mestra em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Universidade Federal Fluminense (PPGA/UFF). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Antropologia do Direito e das Moralidades (GEPADIM) e Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC). Tem experiencias nas áreas de Direito e Antropologia, com ênfase em Antropologia do Direito e Antropologia Econômica
A partir de pesquisa etnográfica realizada no âmbito das audiências de custódia no Rio de Janeiro e com atores do sistema de justiça criminal que atuam nestas audiências, o presente artigo tem como objetivo refletir sobre as representações destes profissionais acerca das pessoas que figuram como custodiados. Durante o trabalho de campo realizado, a questão da seletividade penal ou o fato de os custodiados com muita frequência se adequarem a um determinado perfil socioeconômico foi muitas vezes enunciado pelos interlocutores. Defensores, advogados, promotores e juízes diziam, quando perguntados sobre quem são as pessoas que figuram como custodiados, se tratar de “uns pobres coitados”, de “pés descalços” ou “pé-rapados”, diferenciando-os dos “bandidos” ou “criminosos de verdade”. Esta enunciação, muitas vezes, vinha acompanhada de críticas ao sistema de justiça e, principalmente, ao instituto das audiências de custódia. Desta forma, busco compreender como os juízos morais a respeito dos custodiados se relacionam com as representações sobre as audiências de custódia e o sistema de justiça criminal, de forma mais ampla, principalmente no que diz respeito à distribuição desigual de direitos e à organização hierárquica deste. As reflexões a serem desenvolvidas partem não só da minha observação de audiências realizadas no Presídio José Frederico Marques, como de conversas com atores do sistema de justiça e do acompanhamento de debates realizados por estes em lives e podcasts.
Referências
ABREU, J. V. F. D. (2019) A custódia nas audiências: Uma análise das práticas decisórias na Central de Audiências de Custódia (CEAC) do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Sociologia e Direito) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense. Niterói.
BANDEIRA, A. L. V. V. (2020) Audiências de custódia: percepções morais sobre violência policial e quem é vítima. Belo Horizonte: Casa do Direito.
BANDEIRA, A. L. V. V.; TOLEDO, F. L. & JESUS, M. G. M. (2021) Mérito sob Custódia: os Limites da Menção aos Fatos da Prisão Durante as Audiências de Custódia. RDP, Volume 18, n. 99, 113 – 141, Brasília.
BARBOSA, R. (1988) Oração aos Moços. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa.
CASCUDO, Luis da Camara. (1977) Locuções tradicionais no Brasil. Ed. Funarte.
DA MATTA, R. (1981) Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro, Ed. Zahar.
DUMONT, L. (1992) Ensaios sobre o individualismo: uma perspectiva antropológica sobre a ideologia moderna. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.
EILBAUM, Lucía. (2006) O corpo do acusado: Escrita, oralidade e direitos na justiça federal argentina na cidade de Buenos Aires. In: GROSSI, M. P; HEILBORN, M. L; MACHADO, L. Z. Antropologia e direitos humanos, vol. 4. Blumenau, Nova Letra.
EILBAUM, Lucía. (2012) “O bairro fala”: conflitos, moralidades e justiça no conurbano bonaerense. São Paulo: Editora Hucitec.
GARAU, M. G.; KOPKE, V. & RAIMUNDO, R. (2021) Garantias não tão fundamentais: reflexões sobre a suspensão das Audiências de Custódia no Rio de Janeiro no período da pandemia. Campo Minado, n. 2, Niterói.
KANT DE LIMA, R. (1997) Ordem pública e pública desordem: modelos processuais de controle social em uma perspectiva comparada. Anuário Antropológico/88. Ed. Universidades de Brasília. Brasília.
KANT DE LIMA, R. (2010). Polícia, justiça e sociedade no Brasil: uma abordagem comparativa dos modelos de administração de conflitos no espaço público. Revista de sociologia e política, n. 13.
NUÑEZ, Izabel Saenger. (2018) “Aqui não é casa de vingança, é casa de justiça!”: moralidades, hierarquizações e desigualdades na administração de conflitos no Tribunal do Júri. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade Federal Fluminense, Niterói.
SILVESTRE, G.; JESUS, M. G. M & BANDEIRA, A. L. V. V. (2021) Audiências de custódia e violência policial: análise do encaminhamento das denúncias em duas gestões na cidade de São Paulo. Antropolítica, Revista Contemporânea de Antropologia. Niterói.